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O que é loot box e porque alguns países querem proibir isso nos jogos
Não importa se você está jogando FIFA, Apex Legends, Rocket League, Fortnite, CS:GO ou Rainbow Six Siege. Onde quer que esteja, haverá uma loot box esperando por você e pelo seu dinheiro.
Como um dos assuntos mais controversos da atualidade no universo dos jogos, estas caixas com itens sortidos vêm causando frustração nos jogadores e muita raiva para os pais.
Hoje você descobrirá em detalhes o que são as Loot boxes, o que fazem, como vivem e onde dormem. Tudo isso e muito mais aqui, no 2 A.M. repórter!
O que é uma loot box?
Brincadeiras à parte, as loot boxes são um assunto sério, que atualmente passam por discussões em conselhos de ética e cortes de justiça ao redor do mundo inteiro.
Uma loot box nada mais é do que uma forma de monetização presente em diversos jogos modernos, na qual os jogadores recebem caixas com itens sortidos, a exemplo de skins, armas, moedas virtuais e outras formas de personalização. Para abri-las, é necessário utilizar “chaves”.
Utilizada a chave, o jogador verá uma animação e receberá apenas um item aleatório dentre as possibilidades mostradas anteriormente.
Normalmente, essas chaves ou quaisquer outros mecanismos de abertura são pagos. Algumas vezes até é possível obtê-los jogando, mas o processo torna-se instantâneo com o pagamento em dinheiro real.
Alguns dos exemplos atuais do mecanismo são:
- Counter Strike: Global Offensive – Caixas de Loot
- Rocket League – Crates
- Apex Legends – Pacotes Apex
- Rainbow Six Siege – Alpha Packs (não necessitam de chave, mas são difíceis de conseguir)
- Fortnite Battle Royale – Loot Crates
- FIFA – Pacotes de Jogadores
- Street Fighter V
- Hearthstone
Como surgiram as loot boxes
As loot boxes surgiram como um modelo de monetização para jogos gratuitos para jogar, tais como MMORPGs e aqueles de tiro em primeira pessoa. O modelo de negócios decolou com a ascensão das plataformas de smartphones e seus jogos, finalmente invadindo o mercado de PCs e consoles.
Acredita-se que uma das primeiras versões do mecanismo foi a de Maple Story em sua versão japonesa. O MMORPG lançado em 2014 incorporava tickets Gachapon, inspirados nas máquinas Gacha japonesas, nas quais pessoas colocam dinheiro e torcem para pegar brindes em cápsulas.
Conta-se que as primeiras versões de Loot Boxes foram vista em 2014
No ocidente, a Zynga foi uma das mais bem-sucedidas, utilizando redes sociais como o Facebook para introduzir itens extras aos seus jogos free to play.
Em setembro de 2010, a Valve adicionou as caixas a Team Fortress 2, passando a exigir chaves para a abertura. Foi em época similar que a Electronic Arts inseriu a modalidade de cartas em FIFA, começando a vender até mesmo uma edição separada com mais benefícios.
Exemplos nem tão recentes incluem ainda Battlefield 4 com os battlepacks, Middle-earth: Shadow of War, League of Legends e Star Wars Battlefront.
Um modelo de negócios perigoso
Devido ao fator de sorte e aos algoritmos utilizados, as loot crates são frequentemente associadas por profissionais da área de saúde e psicologia a fatores como compulsão, vício e até mesmo depressão.
O problema está no esquema de reforçamento de razão variável. Ele descreve as fases vividas pela pessoa que experimenta os jogos baseados no acaso e nas possibilidades. Primeiro o jogador vê as premiações possíveis, dentre tantas outras, e gera uma expectativa de conquista.
Ao “rolar os dados”, o corpo entra em um estado de adrenalina e atenção muito forte, estimulado pela possibilidade de vitória. O corpo responde liberando dopamina, um hormônio neurotransmissor conhecido também como o hormônio do prazer, estimulando boas sensações no organismo.
Como resultado, a tendência é repetir a abertura de caixas por uma quantidade indefinida de vezes, o que pode ser até quando o dinheiro durar ou até conseguir o item almejado em primeiro lugar. Tudo isso, claro, até que o próximo alvo da compulsão seja identificado. E aí o ciclo se repete…
Médicos como James Sauer e Aaron Drummond alertam para o fato de as loot boxes terem efeitos colaterais tanto a curto como a longo prazo.
A primeira opção está associada a comportamentos como gastar demais, repetir além da conta e fazer da abertura das caixas uma compulsão. Já o fator de longo prazo seria a migração das loot boxes para jogos em casas de apostas reais, onde o perigo torna-se ainda maior.
Muitas carteiras e famílias já choraram
As histórias problemáticas envolvendo loot boxes e dinheiro perdido são muitas na internet. Em julho deste ano, quatro crianças com menos de 10 anos gastaram aproximadamente 2,5 mil reais em FIFA 19 do Nintendo Switch, segundo reportagem da BBC. Os pais confiscaram o console indefinidamente e, felizmente, a Nintendo concordou em ceder o reembolso.
Mas a saga de FIFA e gastos exagerados não para por ali. Outro jogador gastou mais de 16 mil dólares ao longo de dois anos. Tudo isso para conseguir Pontos FIFA suficientes e montar o time dos sonhos. Outro gastou 10 mil libras, mas percebeu que não valeu a pena.
A lição que fica, no caso dos pais, é aprender a utilizar os recursos limitadores de transações presentes nos consoles e nos serviços de distribuição digital para PC. No caso dos gastadores compulsivos, o importante é buscar ajuda médica e psicológica antes que o estrago seja grande demais.
Banidos na Bélgica?
Cientes dos problemas causados, o Ministro da Justiça e a Comissão de Jogos da Bélgica tomaram a decisão de proibir, em 2018, a presença de jogos com as caixas de loot.
Aqueles que não obedecerem às leis estarão sujeitos a penas como multas e prisão. Isso forçou a Electronic Arts a remover os sistemas de microtransação de seus jogos. De longe, o mais afetado pela decisão foi FIFA.
Alguns jogadores espertos utilizaram o ocorrido para trocarem seus pacotes Apex, em Apex legends, por Metais de Criação. Você pode ler mais sobre isso clicando neste link.
Mario Kart Tour também…
Outros jogos como Overwatch estão incluídos na decisão. O mais recente afetado pela ordem da justiça belga foi Mario Kart Tour, versão do popular jogo de corrida da Nintendo lançada para smartphones com sistemas operacionais Android e iOS.
Por conter elementos similares às caixas sortidas, o lançamento seria barrado. A Nintendo também não se mostrou interessada em adaptá-lo às regras do país. Como resultado, é bem possível que um público estimado em mais de 11,5 milhões de jogadores fique de fora da brincadeira.
O caso de Counter Strike: Global Offensive e a França
Um fato mais curioso ocorreu nesta semana com Counter Strike: Global Operations (CS:GO). Devido às regulações do governo francês, a Valve adicionou por lá um sistema de Scanner de raio-x. Com ele, os jogadores podem ver o conteúdo da caixa antes de abri-la. Seria uma trapaça do bem?
É claro que há uma nova limitação: jogadores da França não podem mais comprar caixas de outros players e de outras regiões. Pelo visto, a Valve estava pensando em uma forma de impedir o comércio “cheatado” de caixas com itens premium.
As gigantes estudam uma alternativa
Diante da pressão, muitas das empresas responsáveis pelos jogos estudam um modelo mais viável do que o atual. Em 2018, a Turn 10 anunciou a remoção das Prize Crates de Forza Motorsport 7. Os Tokens pagos também não fizeram parte de Horizon 4, eliminando a porção de “Pague para ganhar” do jogo.
Mais recentemente, a Psyonix anunciou que está encerrando a participação das loot boxes pagas em Rocket League. Em um post no blog da empresa, ela detalhou os conteúdos da última caixa sortida, chamada “Vindicator Crate”.
No lugar delas entrarão as blueprints, plantas detalhadas que podem ser trocadas pelo item descrito, a um custo fixo e com resultado certo.
Os itens adquiridos com os créditos de Rocket League (a nova moeda virtual que substitui as chaves) não poderão ser trocados pelo sistema de trade-ins do game.
Para a alegria de muitos, a Psyonix abrirá também uma loja com itens raros e passados, para que os interessados adquiram alguns dos colecionáveis mais raros que já não estão mais disponíveis através das caixas.
Em meio a tantos problemas e discussões sobre o futuro das loot crates, algumas coisas estão claras. É nítido que mais cortes judiciais devem começar a barrar o modelo ao redor do mundo, alegando infrações aos direitos das crianças e assemelhando a prática a jogos de azar.
As Loot Boxes devem ser proibidas em mais países
Isso inclui nações como França, Nova Zelândia e Austrália, entre muitas outras.
As grandes desenvolvedoras e empresas responsáveis por consoles e PCs estão alertas para os problemas decorrentes da prática, tentando desestimular a sua adoção em novos títulos.
Caminhando adiante, é preciso adotar um modelo transparente, que dê ao jogador aquilo que de fato ele deseja, recompensando o seu dinheiro de forma honesta.
E você, o que pensa sobre as loot boxes? Participe da discussão e deixe o seu comentário aqui embaixo!
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Fonte(s): Eurogamer, Comporte-se, PC Gamer, The Guardian, Estudo Prático, Parent Zone, Games Industry, BBC, Gaming Bolt e Mashable